Durante a vida, ao olhar para o mundo e para os outros, notamos mudanças, descobrimos coisas novas, apercebemo-nos de coisas que nunca vimos e sempre lá estiveram. Algumas gostamos, outras não, sobre outras não temos, ou ainda não temos, opinião. E quando olhamos para nós? Aí, quando notamos tais coisas, levanta-se uma questão sobre essas mudanças e ideias, serão passageiras ou permanentes? ESTOU ou SOU?
As emoções que um homem sofrido, triste e inseguro afasta do seu coração para se sentir forte e inabalável são muralhas virtualmente intransponíveis que o protegem da desilusão e da vã esperança de felicidade.
As palavras fluem da sua boca tão cuidadosamente estruturadas na sua mente e forjadas no fogo frio da solidão e do desespero para que quem as ouve tenha a percepção de uma pessoa forte, decidida e confiante.
O afastamento propositado de interacções humanas que lhe dá a ilusão de individualidade e que usa como justificação para o sentimento intriseco de separação.
Tudo rui, tudo perde significado...
Basta um vislumbre, uma efémera parcela de tempo e a ansiedade, a palpitação, o turbilhão de pensamentos, a sensação de partilha, compreensão, pertença, a incapacidade de racionalidade, o calor, a subita vontade de viver, a esperança... tudo volta para o assombrar, para o fazer sentir como areia na praia que é revoltada, sem vontade própria, pelos salgados dedos do mar.
Como se houvesse uma sina, maldição ou feitiço que o subjuga e o possui, que está na posse de uma feiticeira que não sabe que o é e que o conjura sem saber que o faz.
E é aí, que no seu íntimo sabe que é exactamente esse o seu propósito; é dessas emoções que tanto foge mas que, paradoxalmente, tanto quer reencontrar. É aí que se lembra que só foge e se protege pelo medo de as voltar a perder, de voltar a ter consciencia do abismo, do vazio, onde antes, por momentos, esteve a chama do seu coração.
Esse vislumbre é afinal uma benção, esse é aquele momento efémero de felicidade para que o homem se propõe viver e que o alimenta enquanto se vê forçado a reconstruir as suas muralhas que jazem desfeitas em pó a seus pés.
Assim como uma gota de água pode desintegrar o mais rijo aço, assim como o que começa nas montanhas como uma brisa pode devastar planícies inteiras, assim como o que começa como uma ligeira ondulação no mar pode arrasar falésias inteiras na costa, também o coração frio, estável e impenetrável de um homem pode ser completamente liquefeito, num instante, por aquele doce, negro e brilhante olhar...o teu.
Simples mas complexo. Instinto matemático, vejo as coisas como linhas de código. Todas as acções são um algorítmo. Todos os algorítmos são passíveis de serem optimizados.
E se aquele vazio que se sinto é suposto ser preenchido com aquela alegria e ânsia que fervilha em mim quando penso abandonar todo este sistema corrupto e anti-natura de coisas e dedicar-me a uma via monástica e holística?
Sonho em enverdar por uma vida una com a Natureza, com a Criação, com o Universo. Sonho em dedicar os meus dias à introspecção, estudo, aprendizagem, partilha, contemplação, evolução, de mim e dos outros.
Sonho com uma comunidade de partilhas, sem confrontos, com respeito pelas diferenças, com amor pelo grande plano e com a alegria diária de estarmos realmente a viver.
Sonho Viver em Amor!
Amigos, é possível! Vários o fizeram e fazem, com os seus sucessos e os seus fracassos. O que importa é que vivem o seu sonho...
Eu quero viver o meu, quero fazer dele realidade. Quero um pedaço de terra onde me possa sentir em casa, mesmo sem casa, e fazer da minha também a casa doutros. Fazer a nossa casa.