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domingo, 10 de janeiro de 2010

Latente pedra ardente



As emoções que um homem sofrido, triste e inseguro afasta do seu coração para se sentir forte e inabalável são muralhas virtualmente intransponíveis que o protegem da desilusão e da vã esperança de felicidade.

As palavras fluem da sua boca tão cuidadosamente estruturadas na sua mente e forjadas no fogo frio da solidão e do desespero para que quem as ouve tenha a percepção de uma pessoa forte, decidida e confiante.

O afastamento propositado de interacções humanas que lhe dá a ilusão de individualidade e que usa como justificação para o sentimento intriseco de separação.

Tudo rui, tudo perde significado...

Basta um vislumbre, uma efémera parcela de tempo e a ansiedade, a palpitação, o turbilhão de pensamentos, a sensação de partilha, compreensão, pertença, a incapacidade de racionalidade, o calor, a subita vontade de viver, a esperança... tudo volta para o assombrar, para o fazer sentir como areia na praia que é revoltada, sem vontade própria, pelos salgados dedos do mar.

Como se houvesse uma sina, maldição ou feitiço que o subjuga e o possui, que está na posse de uma feiticeira que não sabe que o é e que o conjura sem saber que o faz.

E é aí, que no seu íntimo sabe que é exactamente esse o seu propósito; é dessas emoções que tanto foge mas que, paradoxalmente, tanto quer reencontrar. É aí que se lembra que só foge e se protege pelo medo de as voltar a perder, de voltar a ter consciencia do abismo, do vazio, onde antes, por momentos, esteve a chama do seu coração.

Esse vislumbre é afinal uma benção, esse é aquele momento efémero de felicidade para que o homem se propõe viver e que o alimenta enquanto se vê forçado a reconstruir as suas muralhas que jazem desfeitas em pó a seus pés.

Assim como uma gota de água pode desintegrar o mais rijo aço,
assim como o que começa nas montanhas como uma brisa pode devastar planícies inteiras,
assim como o que começa como uma ligeira ondulação no mar pode arrasar falésias inteiras na costa,
também o coração frio, estável e impenetrável de um homem pode ser completamente liquefeito, num instante, por aquele doce, negro e brilhante olhar...o teu.